A pandemia não acabou: como estão os artistas após a Covid-19?

Conversamos com personalidades da música sobre a realidade atual do Brasil, que teve o Carnaval cancelado pela segunda vez; confira.

Entre os dias 21 e 29 de fevereiro de 2020, a maior festa do Brasil foi realizada. Naquele ano, o Carnaval aconteceu normalmente, quando a atenção do mundo inteiro estava voltada para a China, onde foi identificado o primeiro caso de Coronavírus, no final de 2019. Poucos dias depois, em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS – (Organização Mundial da Saúde), como uma pandemia, pois já existiam surtos da doença em várias regiões do mundo.

Foto: Reprodução Internet.

De repente, o caos se instalou. Com o aumento do número de mortes registradas diariamente, o distanciamento social e o isolamento foram necessários. A vida de pessoas do mundo inteiro foi afetada de forma brusca.

Além da saúde e da economia, uma das áreas mais afetadas pela pandemia do novo Coronavírus foi o entretenimento. O cancelamento de shows e eventos, sem previsão para a retomada de agendas, surpreendeu os artistas e os mais diversos profissionais que trabalham na área e têm a arte como única fonte de renda.

Novo normal

A palavra da vez foi criatividade. Utilizando a internet como principal aliada, para continuar fazendo o que amam e se reconectar com o público, os artistas passaram a realizar lives através das redes sociais e canais no YouTube.

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Logo, a ferramenta que não era tão popular, viralizou. Nomes como Gusttavo Lima, Marília Mendonça, Luan Santana, Jorge & Mateus e até Sandy & Junior, realizaram seus shows de forma virtual e ajudaram os fãs a enfrentarem momento tão difícil e cheio de incertezas como o período de isolamento social.

Os meses passaram, e a situação que era apontada por muitos como algo passageiro, se arrastou por um longo tempo. Sem previsão para a vacinação da população brasileira, o carnaval de 2021 foi cancelado e causou comoção. As lives continuaram como solução encontrada por vários artistas para se comunicarem com os fãs, são exemplos Ivete Sangalo e Claudia Leitte, que formaram uma dupla e cantaram sucessos que marcaram a carreira das duas.

Esperança

Após uma longa espera, em 17 de janeiro de 2021 a vacinação começou no país. Assim, veio a flexibilização das medidas restritivas contra a Covid-19. Aos poucos, equipamentos culturais como cinemas, teatros e museus, que foram fechados, voltaram a funcionar com medidas de segurança, além dos artistas que também passaram a retomar suas agendas.

Grande expectativa foi gerada para a realização do carnaval em 2022, uma vez que a maior parte da população já está vacinada, inclusive com a segunda, e alguns até com a terceira dose do imunizante.

Mudança de planos

No entanto, em novembro de 2021, uma variante da Covid-19 foi identificada. Após o surgimento do Ômicron, os casos de pessoas diagnosticadas com Covid-19 voltaram a aumentar.

Agora, com grande parte da população vacinada, as pessoas apresentam sintomas leves e algumas estão assintomáticas. No entanto, pela segunda vez o Carnaval virou um sonho distante. Em janeiro de 2022, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram o cancelamento do Carnaval de rua.

Analisando o cenário atual, onde pelo segundo ano consecutivo a festa que mais movimenta a economia do Brasil não será realizada, conversamos com artistas para entender o impacto da pandemia de Covid-19 em suas vidas.

Entrevistas

Cristina Amaral

Natural de Sertânia, em Pernambuco, Cristina Amaral é cantora e compositora. Ela já representou a cultura pernambucana várias vezes, inclusive através de turnês internacionais, cantando forró, MPB e frevo.

Sobre a pandemia, a artista afirmou que de início a ficha não caiu e que teve a esperança de ser algo passageiro. Ela ficou muito abalada, pois perdeu amigos e ficou apreensiva em relação a saúde de seus familiares, definiu a pandemia como um pesadelo e afirmou que se fortaleceu através da religião.

Durante o período de isolamento social, Cristina Amaral fez algumas composições e realizou o sonho de entrar na faculdade. Atualmente ela está no 5° período de psicologia e afirmou que a internet foi um grande aliado: “Quem usou a criatividade, se deu bem”, disse.

A cantora afirmou ainda que sentiu muita saudade e ficou muito ansiosa para a volta aos palcos, que definiu como sua segunda casa. Para ela, a volta aos palcos foi como realizar um grande sonho, pois estava com saudade do público, de ver todo mundo feliz.

Já sobre as lives, Cristina afirmou que foram uma boa opção: “Era a única ferramenta que a internet disponibilizava. Fiz muitas lives, mas não é a mesma coisa que um show presencial, faltava o calor humano”.

Cristina não é contra a realização das festas privadas durante o carnaval de 2022, desde que os organizadores cumpram com os protocolos necessários.

Capilé

Cantor e compositor natural de Campina Grande, na Paraíba, o artista é um dos principais nomes do São João e representa a cultura do nordeste nacionalmente.

O artista afirmou que a pandemia impactou principalmente sua vida financeira, uma vez que se mantém exclusivamente através da música. O emocional também foi abalado, pois ficou muio tempo sem fazer o que ama.

Durante o período de isolamento social, Capilé escreveu cinco músicas. Uma delas, fazendo uma crítica ao momento atual, principalmente sobre muitas atenções estarem voltadas para a economia, enquanto pessoas estão morrendo.

Sobre a volta aos palcos, ele definiu o momento como “voltar a viver”: “Quando você não faz o que ama, é a mesma coisa que existir só pela metade. A minha vida está sendo retomada com essa volta aos palcos”, disse.

Para ele, as pessoas já cansaram das lives, mas os eventos online são uma forma de garantir o emprego de músicos e equipes técnicas. Empresário do Carnaval e do São João, ele tem um trio elétrico, que é um dos principais produtos destas festas. O trio funciona com uma equipe de em média 20 pessoas, sem Carnaval e sem live, essas pessoas não têm emprego.

Sobre a realização de festas privadas enquanto o Carnaval de rua está cancelado, ele afirma que tudo deveria parar, apesar de as festas privadas oferecerem um controle maior, com a comprovação da vacinação. “Vamos em frente! Espero poder trabalhar de uma forma segura. Não só eu, como todas as pessoas”, finalizou.

Roxinó do Nordeste

Cantor e compositor pernambucano, nascido em Taquaritinga do Norte, região agreste do estado, ele conseguiu levar o forró para outros países. Suas músicas, na sua maioria composições autorais, tocam em Rádios de várias cidades do Brasil, além de países como Alemanha, Argentina, Japão e México.

Em 2020, o cantor precisou adiar sua primeira turnê internacional, onde faria shows em algumas cidades da Alemanha. Assim como participações em programas de televisão e rádio de São Paulo.

Durante o período de isolamento social, ele não parou de compor. Inclusive, escreveu sobre a pandemia e conseguiu continuar gravando suas músicas.

O artista é a favor do cancelamento de todas as festas que causam aglomeração, principalmente aquelas que não exigem os protocolos de segurança, independente de serem públicas ou privadas.

Almir Rouche

Cantor e compositor, Almir é natural de Igarassu, Região Metropolitana do Recife. Um dos principais representantes da cultura de seu estado, ele é responsável pela música “Galo Eu Te Amo”, em homenagem ao maior bloco de carnaval do mundo, o Galo da Madrugada.

Para ele, o principal impacto da pandemia foi não poder sobreviver de sua arte, nem levar a música para as pessoas da forma como gostaria.

Durante o período de isolamento, ele utilizou a música para ajudar um grupo de psicólogos e psiquiatras que estavam com uma grande demanda de pessoas com depressão. Naquele período, ele usou a música como terapia.

O artista também usou a internet para fazer várias lives e afirmou que teve muito orgulho da arte que Deus deu para ele: “ele me permitiu usar a música como medicina para ajudar as pessoas que estavam tentando salvar vidas.”

Para ele, a volta aos palcos tem sido tímida, mas já é um consolo: “Para as pessoas que vivem de música e amam o que fazem, é indescritível a sensação de poder recomeçar”.

Almir afirmou que as lives perderam um pouco a magia, mas serão a única saída de realizar um carnaval em 2022 caso não exista uma redução dos casos relacionados à Covid-19. Ele tem esperança na realização de eventos privados, respeitando os protocolos de segurança. Na sua opinião, uma boa opção é a realização de eventos para pessoas que já estão vacinadas.

Gitana

Gitana Pimentel nasceu em Patos no sertão da Paraíba. Cantora e compositora, ela descobriu seu amor pela música ainda na infância.

Para ela, os artistas que vivem exclusivamente de música, assim como ela, tiveram impacto principalmente na vida financeira.

Durante o período de isolamento social, em 2020, ela ficou imersa no universo virtual e participou de mais de 40 lives: “Consegui levar a situação com um pouco mais de leveza. Como estava sempre participando de algo eu consegui manter contato com o público e até conquistei novos fãs, e isso aliviou um pouco a questão do distanciamento.

A artista afirmou que inda não voltou com sua rotina de shows como antes. Atualmente está realizando apenas pequenas apresentações em ambientes menores e com público reduzido:”A energia do público fez muita falta, no começo deu um medinho, mas agora estou mais tranquila e me sinto mais segura após a vacina”, afirmou.

Para ela, as lives já deram o que tinham que dar. “Em 2021 elas já não eram mais uma boa alternativa, o público já estava saturado desse formato. Creio que por enquanto o ideal é manter os eventos presenciais, porém com o público reduzido e seguindo os protocolos de segurança”.

Gitana afirma que, se os eventos privados continuarem acontecendo sem os cuidados necessários, jamais poderemos voltar ao normal: “É uma boa alternativa, porém sem consciência não difere muito dos eventos públicos.”

Jota Michiles

Natural de Recife, o cantor e compositor é um dos principais nomes quando o assunto são as músicas de Carnaval. Faixas como “Bom Demais”, gravada por Alceu Valença e “Fazendo Fumaça” que gravou com Fafá de Belém, são suas composições.

Para ele, a pandemia trouxe só prejuízo financeiro, doenças na família, e a perda de um parente. O artista afirmou que está sempre compondo, independente dos atropelos, e que ainda não teve o prazer de voltar aos palcos, mas garante que aguarda com muita ansiedade.

Para ele, as lives são uma forma de acalentar artistas e fãs. Já sobre o cancelamento do Carnaval de rua e a realização de festas privadas, ele afirma: “Acato plenamente as decisões dos profissionais da saúde, pela nossa vida que é mais importante. Viva a Medicina, viva a vacina, viva a saúde!”

Com informações de Paho e Agência Brasil.

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