Entenda como o Afeganistão, e as mulheres, serão afetados com o Talibã no poder

Proibições e violência: Com medo de morrer, população tenta fugir do Afeganistão após retomada do Talibã.

Talibã
Foto: Reprodução Internet

Nas última semana, aconteceu a retirada das tropas americanas do Afeganistão. Em seguida, o grupo extremista Talibã assumiu o controle do palácio presidencial do país, instalado na capital Cabul. O presidente fugiu do Afeganistão neste domingo.

Com isso, a população teme a volta de práticas medievais e de uma série de proibições e violência que ocorriam na década de 1990, quando o grupo insurgente ocupou o poder pela primeira vez.

Em poucas horas, mudanças retrógradas já começaram a acontecer no Afeganistão. Com medo de morrer, milhares de pessoas, incluindo jornalistas, que estão no local para cobrir os acontecimentos, estão fugindo do país.

A jornalista inglesa Clarissa Ward, de 41 anos, correspondente da CNN no Afeganistão, está no país fazendo a cobertura sobre o que está acontecendo em Cabul.

Somente nas últimas horas, internautas e telespectadores já notaram a grande transformação na roupas da jornalista.

Antes, ela aparecia ao vivo com roupas mais casuais. Já nesta segunda-feira (16), Clarissa apareceu usando burca e outras vestimentas mais discretas.

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Em uma de suas entradas ao vivo, enquanto estava dentro de em um prédio, a jornalista garantiu que está bem, mas afirmou que viu alguns colegas de profissão fugirem às pressas com medo da morte.

Vale ressaltar que talibãs não gostam da imprensa. O radialista sueco Nils Horner, a repórter canadense Michelle Lang e dois fotógrafos vencedores do prêmio Pulitzer, a alemã Anja Niedringhaus e o indiano Danish Siddiqui, foram mortos durante atentados nos últimos tempos.

Entenda como o Afeganistão será afetado com o Talibã no poder

Há 20 anos, antes de o exército dos Estados Unidos chegar a Cabul, muitas proibições eram impostas à população do Afeganistão.

O consumo de álcool, por exemplo, era totalmente proibido. Além disso, eram comuns punições físicas (em sua maioria mutilações), para pessoas acusadas de roubo e adultério.

Também era obrigatório que os homens deixassem a barba grande e que as mulheres usassem burca – vestimenta que cobre todo o corpo, inclusive os cabelos, e apresenta uma estreita tela, à altura dos olhos, através da qual se pode ver.

De acordo com informações de sites estrangeiros, os militantes já voltaram a cobrar essas regras desde domingo (15/8).

MULHERES

O grupo extremista já começa a dar primeiros sinais de que o novo regime deverá afetar os direitos das mulheres, como o acesso à educação.

Nesta segunda (16), Lotfullah Najafizada, chefe do serviço de notícias afegão Tolo News, publicou uma foto na qual um homem cobre de tinta imagens de mulheres pintadas em um muro da capital do Afeganistão.

Ainda no domingo, a ex-embaixadora da Juventude da Organização das Nações Unidas (ONU), Aisha Khurram, informou que professores foram vistos se despedindo de suas alunas na Universidade de Cabul. Em 1990, Muçulmanas não podiam frequentar escolas e universidades.

“Alguns professores se despediram de suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã… E talvez não tenhamos nossa formatura, assim como milhares de alunos em todo o país”, escreveu Khurram no Twitter.

Em sua gestão, o Talibã promovia apedrejamento de mulheres acusadas de adultério, proibia meninas de frequentarem a escola, só permitia que mulheres saíssem às ruas acompanhadas por um parente do sexo masculino e vestindo uma burca, entre outros absurdos.

MALALA

Vale lembrar, que a ativista Malala foi vítima do Talibã. A jovem levou um tiro na cabeça enquanto ia para a escola, no Paquistão, em 2013.

A bala, disparada por um talibã, entrou pelo olho esquerdo, explodiu ossos do crânio, viajou 45 centímetros até parar no ombro.

Após saber do ocorrido com Malala, o governo britânico mandou um avião buscá-la no Paquistão, ela passou por diversas cirurgias e se recuperou.

Em 2014, Malala ganhou o Nobel da Paz pela sua luta em nome do reconhecimento das mulheres. Em 2020, ela se formou em filosofia, política e economia em uma das universidades de maior prestígio do mundo, Oxford, na Inglaterra.

Nesta segunda-feira (16), horas depois de o grupo extremista Talibã cercar a capital do Afeganistão, Cabul, a ativista usou as redes sociais para pedir ajuda das potências globais.

“Assistimos em completo choque enquanto o Talibã assume o controle do Afeganistão. Estou profundamente preocupada com mulheres, minorias e defensores dos direitos humanos. Poderes globais, regionais e locais devem pedir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis”, escreveu a ativista.

MORTES

O medo dos afegãos de que as antigas regras retornem levou alguns à morte. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram duas pessoas caindo de um avião que deixava a cidade de Cabul, no Afeganistão, nesta segunda-feira (16/8) em uma tentativa de fuga.

Os Estados Unidos já confirmaram que seis pessoas morreram durante o tumulto na pista do aeroporto de onde partia o voo após o Talibã tomar o governo do Afeganistão no domingo.

ATAQUE DOS EUA E VOLTA DO TALIBÃ

Os EUA atacaram o Afeganistão em 2001, após o atentado do 11 de Setembro, e tiraram o grupo extremista do poder.

Na ocasião, o Talibã foi acusado pelos americanos de esconder membros do grupo terrorista Al-Qaeda, comandado por Osama bin Laden, responsável pelo atentado que matou quase três mil pessoas.

Em fevereiro de 2020, o então presidente americano, Donald Trump, assinou um acordo de paz com o Talibã que previa a retirada total das tropas do país até abril deste ano.

O atual presidente dos EUA, Joe Biden, que tomou posse em janeiro de 2021, manteve o acordo.

A maior parte das forças lideradas pelos EUA deixaram o Afeganistão em julho. No entanto, o Talibã se aproveitou da retirada e avançou rapidamente pelo país, conquistando diversas capitais de províncias desde o início do mês.

PAPA FRANCISCO SE MANIFESTA

O Papa Francisco se manifestou e mostrou preocupação com a situação do Afeganistão durante a oração do Angelus, neste domingo (15), na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Durante sua fala, Francisco pediu orações para que “cesse o barulho das armas” e que “soluções sejam encontradas com base no diálogo”.

“Peço-lhes que rezem comigo ao Deus da paz para que cesse o barulho das armas e as soluções possam ser encontradas na mesa do diálogo. Somente assim a martirizada população daquele país – homens, mulheres, idosos e crianças – poderá voltar para suas casas e viver em paz e segurança no pleno respeito mútuo”, disse o Papa.

PRONUNCIAMENTO DE JOE BIDEN

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um pronunciamento sobre os últimos acontecimentos no Afeganistão na tarde desta segunda-feira (16).

Ele admitiu que os Estados Unidos cometeram erros, mas disse que não se arrepende de ter determinado a retirada de tropas americanas do país.

“Nossa missão no Afeganistão teve muitos erros nas últimas décadas. Eu sou o presidente dos EUA e essa guerra acaba comigo. Não me arrependo da minha decisão de acabar com essa guerra e manter foco na nossa missão de contraterrorismo”, afirmou Biden durante um discurso televisionado nesta segunda-feira (16).

Biden falou sobre os direitos humanos, principalmente das mulheres e das minorias.

Segundo ele, os Estados Unidos deverá dar “status de refugiados para quem trabalha em embaixadas e organizações americanas no Afeganistão”: “Nós vamos focar no que é possível. Continuaremos apoiando o povo afegão. Nossa diplomacia e ajuda humanitária continuará no país”, disse.

De acordo com o presidente, o foco agora é retirar trabalhadores americanos que ainda estão no Afeganistão.

Biden afirmou ainda que, se o Talibã atacar as equipes americanas, a contra resposta será “rápida e forte”. 


Com informações de Catraca Livre, Metrópoles, G1 e CNN

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