Zé Wendell: Ator paraibano fala da sua vida e carreira

Nos últimos anos, Zé Wendell vem se consolidando como ator no Rio de Janeiro, colecionando trabalhos no teatro e na televisão.

Natural de Cacimba de Dentro, cidade do interior da Paraíba, e morando atualmente no Rio de Janeiro, o ator e roteirista Zé Wendell volta ao Recife mais uma vez junto com a Cia de Teatro OmondÉ. Eles estão em cartaz na Caixa Cultural até este sábado (15) para encenar a peça “Infância, Tiros e Plumas”

Durante as divulgações do espetáculo através das redes sociais, conhecemos o trabalho do Zé Wendell. E diante de toda a sua simpatia e receptividade que são pontos característicos da personalidade do povo nordestino, o convidamos para participar da nossa Entrevista VIP.  

O convite foi prontamente aceito e o artista foi nosso entrevistado respondendo perguntas sobre sua vida e carreira. 

ENTREVISTA VIP: Como surgiu sua paixão pela arte e o que te levou a escolher ser ator?  

ZÉ WENDELL:Eu não queria ser ator. Queria ser cantor. Mas, quando adolescente assisti Os Saltimbancos e toda aquela magia do Teatro pareceu fazer sentido para mim. Eu quis estar no palco. Comecei a fazer teatro no colégio, a estudar e devorar os livros de peças teatrais. 

Me identifiquei de cara. Como uma dessas paixões avassaladoras. Principalmente porque o Teatro me deu o lugar da fala. Sendo do interior da Paraíba, único declaradamente artista na família e peculiarmente silencioso e observador diante do mundo a minha volta, acabei ganhando voz nos palcos onde me encontrei e me encontro. 

No palco sou eu por inteiro. Pode crer, isso é revolucionário.

EV: Antes de ir para o Rio cursar Artes Cênicas, você participou de Companhias de Teatro e de Dança em Campina Grande na Paraíba como foi esse início de carreira?

ZW: Todo início é cheio de paixão e muito trabalho também. Eu fazia teatro, dança e ainda participava de um coral. Sabia que para ser um ator eu precisava de habilidades. E tudo isso era no colégio ou em cursos livres. Não eram aulas particulares. 

Depois participei do balé do Teatro municipal de Campina Grande sob a batuta de Myrna Agra Maracajá, no Teatro integrei o Grupo de Heureca com Josimar Alves, trabalhei com Saulo Queiroz, Lurdes Capozoli, Fátima Ribeiro, Antônio Nunes entre outros… E por fim eu e uns amigos criamos nossa própria Cia. Satyricon com o diretor Flávio Guilherme. 

Carreguei muito cenário na cabeça. Fazia os projetos e saía de loja em loja garimpando cenários e figurinos. Fizemos muito sucesso em Campina Grande. 

EV: De todos os personagens que já interpretou qual é o seu preferido?

ZW: Pergunta difícil. Cada personagem é diferente e carrega sua particularidade. Mas se posso destacar, destaco o Quaderna de As Conchambranças de Quaderna do Ariano Suassuna da minha Cia Omondé. Esse personagem originalmente quem faz é o Leonardo Bricio mas o substitui em uma turnê pelo Rio Grande do Sul. Foi incrível! 

EV: Já no Rio, teve ou ainda tem dificuldades em se estabelecer na profissão?

ZW: Fazer arte no Brasil não é nada fácil. Essa frase já virou uma máxima. E que horror por isso. Lutamos muito pela nossa profissão. Acredito no poder transformador do teatro. Sou vocacionado, mas não basta só ter vocação ou talento. É preciso agir. 

Fazer Teatro no Brasil é matar dois ou talvez, três leões por dia. Principalmente pela falta de visão empreendedora dos empresários e de algumas gestões políticas que tendem a sufocar nosso trabalho por questões ideológicas e, óbvio, falta de visão de mundo. Esse descaso gera sim um efeito dominó e, claro, que nos atinge. 

Enquanto não se entender o poder libertador do teatro não se entenderá o valor que aí há. Se você coloca um espetáculo de teatro na rua, não tenha dúvidas, vai encher de gente em volta e as pessoas vão parar seus afazeres para acompanhar aquela história. Quem não gosta de uma boa história?! 

Hoje no Brasil, no geral o ator precisa cantar, dançar, atuar, escrever, gerir sua própria carreira, atuar para o vídeo, se produzir, sapatear, assoviar e chupar cana para poder pagar suas contas. Eu mesmo faço teatro, escrevo, faço publicidade e TV. Tudo para me manter como um ator. 

Acredito que o mais grave num país como o nosso, onde a educação não é o privilégio é ignorar a arte, a manifestação cultura de um povo. Fomentar a arte é também uma responsabilidade do governo. A cultura é o nosso bem maior. É o poder de representação e manifestação do indivíduo para o coletivo e para o mundo. 

EV: Qual foi o primeiro personagem que você interpretou?

ZW: Uma “bicha cigana”, era assim intitulado o personagem no texto Nó cego de Flauber Gorgonio, no colégio 11 de Outubro em Campina Grande na Paraíba. Foi hilário! 

EV: Você já trabalhou no Cinema, Teatro e Tv. Tem alguma diferença no processo de atuação entre elas?

ZW: Total diferença, embora o Teatro seja a base para qualquer ator. O Teatro não tem fuga, se você erra é preciso improvisar, dar um jeito. Te exige lucidez e domínio próprio. Domínio das emoções. 

O tom da TV e do cinema são diferentes, embora corram pela mesma verve artística de atuação. A câmera capta seu olho e automaticamente sua alma como uma máquina de raio X. Se você estiver desconfortável, contrariado ou até mesmo imerso na verdade do personagem ela captará tudo. E esse tudo fica evidente. Pode ser a salvação para o seu trabalho ou nem tanto. 

EV: Em 2014, no aniversário de 51 anos do Teatro Municipal Severino Cabral, você voltou ao local onde tudo começou e foi dos homenageados do evento. Qual foi o seu sentimento em ver seu trabalho sendo reconhecido naquele momento? 

ZW: Sentimento de dever cumprido. Um sentimento de gratidão pela minha cidade, embora eu seja do interior, Cacimba de Dentro, fui criado em Campina Grande. 

E Campina é uma cidade de artistas, intelectuais, pessoas que se dedicam ao Teatro, a Música, a Literatura, viva o Festival de Inverno que resiste há anos! E fazer parte desse corpo que alimenta a história cultural da Serra da Borborema é uma honra! Me sinto privilegiado! 

EV: Quais são as pessoas mais importantes na sua vida e na sua carreira?

ZW: Minha mãe, sem dúvida, Dona Bernadete Barbalho de Araújo. Uma professora e mãe solteira que com muito amor e dedicação criou sozinha eu e meu irmão. Só orgulho. 

Depois vêm meus amigos atores que participam dessa jornada, Adren Alves, Junior Dantas, Angella Lemos, Flávio Guilherme, Diogenes Vidal e óbvio, minha Cia Omondé. 

EV: Na peça ‘Infância, Tiros e Plumas’ que está em cartaz aqui em Recife, você interpreta o Pitil, conta um pouco da personalidade do seu personagem e como ingressou na Companhia OmondÉ? 

ZW: Ingressei na Omondé, quando nem éramos companhia ainda. Fiz teste para As Conchambranças de Quaderna do Ariano Suassuna, peça patrocinado pelo FITA (Festival Internacional de Teatro de Angra). Desde então estou na Omondé que em 2019 completa dez anos de muito teatro.

O Pitill é um comissário de bordo, mas no fundo representa bem o arquétipo do delinquente, mau caráter, um bandido bem disfarçado de cidadão comum, pois além de comissário é traficante de órgãos. Um tipo de personagem aparentemente bonzinho, bem apresentável, mas que bem no fundo carrega uma complexidade miserável e contundente. 

EV: Quais os artistas que mais te inspiram? 

ZW: Vou ser clichê, mas vamos lá. Fernanda Montenegro, Marco Nanine, Jack Nicholson, Meryl Streep,  Jim Carrey, Baby do Brasil, Caetano Veloso,  Madonna,  Elba Ramalho.

E vou mais longe ou mais perto, Iza, Jaloo, Tulipa Ruiz, Ariano Suassuna, Ariane Mnouchkine, o diretor Dimitris Papaioannou. Pütz, são tantos que não caberiam nessa lista! 

EV: Com qual ator ou atriz você ainda deseja trabalhar?

ZW: Marco Nanine e Renata Sorrah.

EV: Qual a maior lembrança que você tem da sua terra natal?

ZW: As brincadeiras de rua! A liberdade, o vento na cara e a inocência da infância. Isso não tem preço! 

EV: Qual é a coisa mais preciosa que você tem? 

ZW: A minha família e minha fé na vida, na arte e em Deus! 

Bate e Volta

Se não fosse ator, seria… Ator. 

Iguaria do Nordeste: Carne de sol e queijo de coalho. O casamento perfeito. 

Uma música: Pau de arara – Luiz Gonzaga 

Uma frase: “Qual a senha do Wi-fi”

Um livro: Dom Quixote – Miguel de Cervantes 

Um lugar: Cacimba de Dentro 

Planos para o futuro: Continuar trabalhando, fazendo teatro, atuando. Muito e muito. 

Dica para os futuros atores:  Leia. Estude e confie em si mesmo. 

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